“Cuidem das crianças!” A voz de Pelé não foi um pedido. Foi um grito, um soco no estômago de um país que finge não ouvir. Naquele dia de glória, enquanto o estádio vibrava e as câmeras capturavam o sorriso do Rei, uma verdade dolorosa foi lançada ao vento. E hoje, décadas depois, esse vento se transformou em um furacão de negligência, varrendo sonhos, arrancando infâncias, deixando cicatrizes que não fecham.
O Estatuto da Criança e do Adolescente completa mais um ano. Mas não há bolo, não há velas, não há celebração. Há luto. Luto por cada menino que deveria estar correndo atrás de uma bola e hoje corre do tráfico. Luto por cada menina que deveria estar brincando de boneca e hoje carrega no corpo as marcas de um abuso. Luto por um futuro que está sendo assassinado todos os dias, enquanto aplaudimos discursos vazios e estatísticas que nos envergonham.
Os Números Não Mentem. Eles Gritam.
165 mil casos de violência sexual contra crianças e adolescentes em um único ano. 165 mil. Não são números. São rostos. São histórias. São corpos que não foram protegidos. 87,7% são meninas. Meninas de 3, 4, 9 anos. Meninas que mal sabem dizer “não” e já aprenderam, na carne, o que é o terror.
E não para aí. 22 mil casos de maus-tratos. 15 mil jovens mortos violentamente em três anos. 13 mortes por dia. Treze vidas apagadas antes mesmo de florescer. Treze famílias destroçadas. Treze futuros que nunca existirão.
E o mais cruel? Quem machuca são os que deveriam cuidar. Pais. Tios. Vizinhos. Pessoas que deveriam ser porto seguro e se tornaram algozes. A violência não está nas ruas escuras – está dentro de casa, escondida atrás de portas fechadas, abafada pelo medo e pela vergonha.
Onde Está o Estado? Onde Está a Nossa Humanidade?
Enquanto isso, a saúde pública desmorona. Vacinas que não chegam. Escolas que não acolhem. Políticas que não protegem. Onde estão os programas de prevenção? Onde estão as campanhas que deveriam salvar vidas? Onde estão as mãos estendidas para tirar essas crianças do abismo?
O Brasil virou um cemitério de inocentes. E nós? Nós assistimos. Nós compartilhamos uma notícia aqui, um post ali, e seguimos em frente, como se a dor delas não fosse nossa. Mas é. É nossa. Porque um país que não cuida de suas crianças é um país sem alma.
Até Quando?
Pelé gritou. Muitos gritaram. As crianças gritam – mas em silêncio, porque ninguém as escuta.
Até quando vamos fechar os olhos? Até quando vamos permitir que mais uma geração seja sacrificada? Até quando o “futuro do país” será tratado como lixo?
O grito está ecoando. Você vai continuar fingindo que não ouve?
Porque um dia, pode ser o seu filho. Pode ser o seu irmão. Pode ser você.
E aí, será tarde demais.
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Grande texto do meu amigo Palma! Tocou em uma ferida aberta que santa sem parar e corrói nossa dignidade enquanto povo! Nada poderia ser discutido no país, enquanto tivermos uma criança exposta dessa forma. Carência de investimentos, de projetos, de escolas, de futuro. Parabéns pela abordagem!