Sempre ressalto em minhas aulas que temos que ter cuidado em analisar os dados, sendo esses compilados em sites confiáveis ou noticiados na imprensa. Nos pós pandemia e nos pós enchentes é fato que observamos a abertura de inúmeras empresas, dos mais diversos ramos. Alguns com visão limitada, dirão que estamos diante de uma recuperação da economia, outros mais atentos, vão verificar se este empreendedorismo é por oportunidade, ou necessidade, ambos gerados pela própria crise.
Para o sociólogo Ricardo Antunes, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), o empreendedorismo é um “mito”, que se fortalece em meio ao alto desemprego e ao enfraquecimento das políticas sociais disponibilizadas pelo Estado. No final de 2019, o Ministério da Economia autorizou motoristas de aplicativo como Uber e Garupa a se formalizarem por meio do MEI (Microempreendedor Individual), sendo que um dos membros da equipe econômica classificou esse tipo de trabalhador como sendo “empresário dele mesmo”. Nesse mesmo entendimento, o Superior Tribunal de Justiça (STJ), determinou que os motoristas que prestam serviços por meio de aplicativo de transporte, não possuem vínculo trabalhista com as empresas.
O que esse exemplo quer nos dizer? A criação de empresas, através de microempreendedores, pode estar mascarando a incapacidade da sociedade como um todo em gerar empregos dignos, com direitos duramente conquistados. Essas medidas não significam evolução, novos tempos, ou trabalho tecnológico, mas sim novas modalidades deprimentes de subemprego ou sub trabalho. Converter trabalhadores em MEI, é como manipular dados estatísticos. No caso dos motoristas de aplicativo, por exemplo, eles utilizam seus automóveis, motos, bicicletas, mas não são autônomos, seguem regras, não definem preço, não controlam o algoritmo que define a localização e qual cliente pegar e são constantemente avaliados.
E para aqueles que sempre tem um discurso raso e minimalista do “ao menos estão empregados”, concordo que estão, mas será que não gostariam de ter mais condições de trabalho, como férias e décimo terceiro? É por isso que a palavra empreendedorismo é poderosa, mesmo para aqueles que não compreendem seu conceito. Porém posso pressupor que a maioria dos empreendedores se sente só, desamparados e vivem a solavancos entre contas, estoques e estratégias de como vender mais em um cenário de concorrência predatória baseada na cultura do preço.








