Um assunto que repercutiu nas últimas semanas foi a ação da Polícia Federal contra a
ASCAMED. A ASCAMED é uma associação que garante tratamento para pacientes através
da cannabis medicinal. Primeiro registro a minha solidariedade ao Matheus Hampel e toda a
equipe da ASCAMED.
A cannabis medicinal, apesar de ser usada para tratar dores crônicas, ansiedade, epilepsia,
esclerose múltipla, depressão, sequelas de AVC, câncer e, até mesmo, efeitos colaterais de
tratamentos como a quimioterapia, não passa ilesa pela ignorância e pelo negacionismo. Da
mesma maneira que negacionistas rejeitam a vacina em pandemias e a necessária
resposta aos eventos climáticos, também tentam interditar o necessário debate sobre o uso
medicinal.
Além do negacionismo que tem como base a ignorância, outro elemento é a nossa falida
guerra contra as drogas, que na verdade é uma guerra contra a população negra, pobre e
periférica. Ao analisar os processados pelos crimes de drogas verificamos que são 86% de
homens, 72% com 30 ou menos anos, 66% de negros (entre pretos e pardos) e 68% de
pessoas que não chegaram a completar o ensino médio. Quase 80% deles, primários.
Alguém acredita que essas são as características de quem realmente lucra com o tráfico de
drogas? Enquanto os grandes traficantes continuam lucrando em confortáveis apartamentos
em zonas nobres, usuários são criminalizados.
Como podemos ver, a associação e todas e todos que pretendem enfrentar o debate com a
seriedade que o tema merece, enfrentam enormes desafios. As dificuldades, preconceitos e
perseguição certamente só não são maiores do que o compromisso, a coragem e a
capacidade de luta daqueles que estudam, trabalham e defendem uma política seria de
segurança e saúde pública.
Coluna por: Alice Carvalho
