Por: Samara Debiasi
No coração do Rio Grande do Sul, Agudo se destaca por um cultivo que vai muito além da produção agrícola: os morangos da região são frutos de tradição, dedicação e paixão pela terra. Pequenos, vermelhos e perfumados, conquistam consumidores pelo sabor adocicado, aroma marcante e textura firme, que derrete na boca. Cada fruto carrega o cuidado de famílias que, geração após geração, aprendem a respeitar o ritmo da natureza e a investir atenção em cada etapa do cultivo.
O clima ameno, os solos férteis e bem drenados e a atenção minuciosa dos produtores garantem morangos suculentos e uniformes, capazes de competir com grandes produções comerciais sem perder o toque artesanal. A escolha das mudas, o manejo das plantas, a irrigação e a colheita manual exigem experiência, paciência e sensibilidade, transformando o cultivo em uma verdadeira arte.
O cuidado em cada detalhe
Em Agudo, a produção de morangos tem mais de quatro décadas de história e faz parte das cinco principais atividades agrícolas do município. Na beira da BR, muitos consumidores já se acostumaram a encontrar bancas cheias de frutas frescas, tradição que reforça a fama de Agudo como a “terra do morango”.
Segundo a extensionista rural da Emater/RS-Ascar, Kamila Santos, a aparência e o sabor são fatores decisivos. “O morango é um fruto muito visual. O consumidor compra pela cor intensa, pelo brilho e pelo tamanho, mas também busca doçura e frescor. Por isso, os produtores daqui têm um cuidado redobrado em cada etapa”, explica.
Esse cuidado envolve também práticas sustentáveis. Muitos agricultores já apostam em sistemas protegidos, que permitem maior controle sobre pragas e doenças, além do uso crescente de insumos biológicos e orgânicos. “Nos últimos anos, trabalhamos muito com alternativas mais limpas, como produtos de base ecológica e até homeopatia. Isso agrega valor ao fruto e garante segurança ao consumidor”, completa Kamila.
Mesmo os morangos que não atingem o padrão estético ideal ganham aproveitamento, eles são congelados e vendidos em outra forma, evitando perdas e diversificando a renda das famílias.
A produtora Rosane Kullmann, que cultiva morangos há 20 anos no município, confirma que a produção e a comercialização seguem em alta e se renovam a cada geração.
“Aqui a tradição vem de família e continua crescendo. Nos últimos anos, inclusive, ampliamos nossa produção e investimos em estufas. Hoje, cultivamos cerca de 4.500 plantas.”
Identidade, desafios e futuro
Mais do que renda, o morango é identidade cultural de Agudo. A Festa do Moranguinho e da Cuca celebra a colheita e atrai visitantes da região, fortalecendo o turismo e ampliando a visibilidade dos produtores. “Todo mundo que fala em Agudo lembra do morango. Ele é um produto que nos identifica e que ajuda a movimentar não só a economia, mas também a cultura do município”, reforça Kamila.
Apesar da força, os desafios são constantes. A umidade excessiva retarda o amadurecimento e favorece doenças como o mofo, enquanto pragas exigem controle preventivo. Mesmo assim, a demanda mantém a produção valorizada. Em determinados períodos, como a recente “febre do morango do amor”, caixas chegaram a ser vendidas por até R$ 80 em Santa Maria.
O futuro aponta para expansão. Embora a presença de jovens ainda seja tímida, a atividade tem atraído famílias interessadas em diversificar a produção. Sistemas mais modernos, como o cultivo protegido em calhas, ampliam a produtividade e reforçam o caráter inovador da agricultura familiar. Além disso, rotas turísticas já incluem propriedades produtoras de morango como pontos de visitação.
“Apesar de todo o cuidado necessário para a produção, a gente ama o que faz. E eu garanto, quem começa a plantar morango se apaixona, o morango é realmente apaixonante.” afirma Rosane.








