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O Silêncio de Junho: A Violência que Não Vemos

Mês de festas típicas, de santos populares: Santo Antônio, São João, São Pedro. Mês de quentão que esquenta a alma, de pipoca estalando na panela, de paçoca que desmancha no céu da boca, de cocada doce e pinhão assado na fogueira da tradição. Mês de quadrilhas que arrastam corações, de casamentos na roça — ou da esperança que teima em florescer. 

Mas por trás das bandeirinhas coloridas, das risadas que ecoam na noite fria, há sombras que se escondem no silêncio. Junho é também o mês do Meio Ambiente, das discussões sobre rios, florestas, peixes e o ar que respiramos. No entanto, uma data quase se perde no vai-e-vem das efemérides: **15 de junho**, Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa. 

A cor é o violeta — símbolo de dignidade, mas também de luto. O tema, infelizmente, é esquecido, varrido para debaixo do tapete da indiferença. 

A vida é um ciclo. Todos envelheceremos — se a sorte nos permitir chegar lá. Mas o Brasil, que se imaginou por décadas como o “país do futuro”, não se preparou para esse amanhã. Em 2030, um quarto da população terá mais de 65 anos. E onde estão as calçadas seguras? Os espaços de convívio? A acessibilidade que não humilha, mas acolhe? Onde está a educação que ensina a honrar a sabedoria dos anos, em vez de descartá-la como coisa velha? 

Os idosos de hoje são os pioneiros de um mundo em transição: viram o analógico virar digital e, de repente, se viram excluídos, perdidos em uma era que os ignora. Na saúde, faltam mãos que cuidem, equipes que escutem, estruturas que garantam dignidade até o último suspiro. No trabalho, são tratados como peças obsoletas — como se experiência não valesse mais que a pressa. 

Nos anos 1970, o futuro era uma promessa distante. Hoje, ele chegou — e trouxe consigo o envelhecimento de uma população abandonada. As leis existem, mas são letras mortas sem políticas públicas que as sustentem. A violência contra os idosos não vem só na forma de golpes: é o abandono, o desprezo, a solidão que corrói. 

Milhares são esquecidos. Pelo poder público. Pelas famílias. Por todos nós. 

Neste junho, o 15 de junho passa como um vento breve — sem deixar marcas, sem ecoar. Mas o futuro não é mais uma abstração: ele é agora. E os idosos estão aqui, entre nós, pedindo apenas o básico: atenção, respeito, dignidade, cuidado, carinho e amor. Não amanhã. Hoje. 

A violência contra os mais velhos precisa acabar. O mundo precisa mudar — não para um amanhã de guerras e fome, mas para um tempo de solidariedade. Para que os idosos de daqui a décadas não precisem enfrentar o mesmo descaso. 

Porque o que eles pedem é simples. É humano. É urgente. 

Só isso: atenção, cuidado, carinho e amor.

Reinaldo Guidolin

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