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O SUS como política pública estruturante: mais que saúde, um projeto de nação

O Sistema Único de Saúde (SUS) representa uma das conquistas civilizatórias mais importantes do Brasil. Nascido do pacto social consagrado na Constituição Federal de 1988, ele materializa princípios fundamentais: universalidade, integralidade e equidade. Mais do que palavras, esses valores traduzem uma promessa — a de que saúde é direito de todos e dever do Estado, sem distinção de classe, cor ou região.

Mas o SUS transcende sua dimensão assistencial. Ele é uma potente engrenagem socioeconômica que move o Brasil de norte a sul. Durante a pandemia de COVID-19, quando o mundo inteiro cambaleou diante do desconhecido, o SUS mostrou sua força monumental. Não apenas como linha de frente no atendimento aos enfermos, mas como maestro de uma sinfonia logística sem precedentes: o Programa Nacional de Imunização (PNI) aplicou centenas de milhões de doses em tempo recorde, coordenando uma complexa cadeia de frio, transporte, treinamento de profissionais e mobilização comunitária.

Essa capilaridade — presente em cada um dos 5.570 municípios brasileiros — faz do SUS um instrumento único de redução das desigualdades regionais. Ele integra, na prática cotidiana, saúde, cidadania e desenvolvimento econômico, levando dignidade a quem mais precisa e oxigenando economias locais de todo o país.

Hospitais Universitários: Laboratórios Vivos de Transformação Social

Os hospitais universitários federais ocupam posição estratégica no ecossistema do SUS. São muito mais que unidades de atendimento: funcionam como laboratórios vivos onde se entrelaçam assistência, ensino, pesquisa e inovação. Neles, residentes médicos e multiprofissionais aprendem fazendo, pesquisadores traduzem ciência em cuidado, e projetos de extensão levam conhecimento às comunidades mais vulneráveis.

Cada hospital universitário é também um motor de desenvolvimento regional. Eles promovem circulação de renda, atraem investimentos, estimulam a criação de novos negócios e fortalecem as economias locais em setores como saúde, educação e tecnologia.

O Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM), vinculado à Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), exemplifica essa força transformadora. Localizado no coração do Rio Grande do Sul, o HUSM é referência em atendimento de alta complexidade para uma vasta região do centro do estado. Mais que isso: é um dos maiores empregadores formais da cidade, movimentando uma extensa cadeia de fornecedores locais — de alimentos a equipamentos médicos — e injetando recursos que circulam na economia regional, gerando empregos indiretos, renda e oportunidades.

EBSERH: Profissionalização e Redes de Cooperação na Gestão Pública

Criada em 2011, a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) representou um marco na modernização da gestão hospitalar pública no Brasil. Seu maior trunfo está na capacidade de criar redes de cooperação e eficiência, conectando hospitais em todo o território nacional.

Exemplo concreto da força dessa rede: Durante a crise da COVID-19, a EBSERH implementou um comitê de crise centralizado que permitiu a redistribuição estratégica de insumos, leitos e profissionais entre os hospitais sob sua gestão. Enquanto algumas regiões enfrentavam picos de demanda, outras podiam compartilhar recursos escassos — ventiladores pulmonares, medicamentos, equipamentos de proteção individual. Essa gestão integrada e baseada em dados evitou o colapso individual de unidades e salvou incontáveis vidas.

A empresa também tem sido pioneira na implementação da telemedicina em seus hospitais, permitindo que especialistas de centros de excelência ofereçam suporte diagnóstico e consultoria para unidades situadas em cidades do interior. Assim, uma gestante de alto risco em uma pequena cidade pode ter seu caso avaliado por um especialista de um hospital de referência, sem precisar percorrer centenas de quilômetros. A tecnologia quebra barreiras geográficas e democratiza o acesso ao conhecimento especializado.

Impacto Econômico: Cada Real Investido Multiplica-se em Desenvolvimento

O impacto econômico dos hospitais universitários é expressivo e mensurável. Estudos demonstram que para cada real investido em um hospital de ensino, gera-se um efeito multiplicador significativo na economia local. Esse efeito vem de múltiplas fontes: os salários de milhares de funcionários que circulam no comércio local, os contratos com centenas de fornecedores, e o movimento gerado por milhares de pacientes e acompanhantes que consomem em hotéis, restaurantes e transportes.

Além disso, a interação virtuosa entre hospitais universitários e centros de pesquisa fomenta o surgimento de startups e ecossistemas de inovação. Parques tecnológicos próximos a esses hospitais abrigam empresas de base tecnológica dedicadas a desenvolver softwares de gestão em saúde, próteses personalizadas, biossensores, dispositivos médicos e soluções de inteligência artificial para diagnósticos. É a economia do conhecimento florescendo, criando empregos qualificados e gerando riqueza sustentável.

Saúde como Pilar do Desenvolvimento Humano e Econômico

O acesso universal à saúde não é apenas um direito humano fundamental — é também um investimento estratégico no desenvolvimento de uma nação. Pessoas saudáveis estudam melhor, trabalham mais, empreendem, cuidam de suas famílias e participam ativamente da vida comunitária.

Um exemplo recente e significativo é o recorde de transplantes alcançado pelo Brasil em 2024, quando o SUS realizou mais de 30 mil procedimentos — um crescimento de 18% em relação a 2022. Esse resultado coloca o Brasil como o segundo maior transplantador do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, com 85% dos transplantes realizados exclusivamente pelo sistema público. Cada transplante bem-sucedido representa uma vida salva, uma família restaurada e um cidadão que retorna à vida produtiva, contribuindo novamente para a economia e a sociedade.

HUSM: Ações Concretas que Transformam Realidades

A rede EBSERH tem sido palco de inúmeras iniciativas transformadoras, e o Hospital Universitário de Santa Maria destaca-se por ações recentes que exemplificam, de forma palpável, o poder do SUS de mudar vidas:

Investimento de R$ 40 Milhões do PAC para Modernização (2023)

Em agosto de 2023, o HUSM foi contemplado com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal. O investimento de R$ 40 milhões está sendo direcionado para a modernização das áreas de oncologia adulto e pediátrica, reestruturação da rede elétrica, revitalização da fachada, renovação da cobertura e construção de um pavilhão para áreas administrativas. O prédio, construído na década de 1970, necessitava urgentemente dessas melhorias para continuar oferecendo atendimento de qualidade à população da região centro-oeste do Rio Grande do Sul.

Ampliação de Leitos de UTI e Reforço na Equipe (2024)

Em julho de 2024, o HUSM recebeu um reforço histórico em sua equipe com a integração de profissionais aprovados em concurso público: 35 técnicos de enfermagem e 10 enfermeiros passaram a atuar na Central de Unidade de Terapia Intensiva. Essa contratação possibilitou a ampliação de 10 leitos de UTI via SUS — um ganho crucial para atender a demanda regional por cuidados intensivos. Segundo relato da própria equipe, nunca havia ocorrido uma entrada tão expressiva de profissionais simultaneamente na UTI, demonstrando o compromisso com a ampliação e qualificação do atendimento.

Investimento no Tratamento de Câncer Infantil (2024)

Em setembro de 2024, a UFSM e a Prefeitura de Santa Maria assinaram um convênio que destinou R$ 971.240,14 para melhorias no espaço físico do Centro de Tratamento da Criança e Adolescente com Câncer (CTCriaC) e do Centro de Transplante de Medula Óssea (CTMO). O investimento visa renovar a ambiência dessas áreas, proporcionando um ambiente mais acolhedor para as crianças e adolescentes em tratamento oncológico. O CTCriaC atende, em média, 60 pacientes por semana via SUS e é referência em leucemia infantil para todo o estado do Rio Grande do Sul. O projeto de extensão Turma do Ique, que atua há mais de 30 anos, ofereceu em 2023 mais de 6 mil cafés da manhã e 4,3 mil almoços aos pacientes e familiares, proporcionando momentos de lazer, apoio emocional e dignidade durante o tratamento.

Parceria Pioneira com a Agricultura Familiar (2025)

Em maio de 2025, o HUSM tornou-se pioneiro e referência nacional ao assinar contrato com a Central de Cooperativas da Agricultura Familiar (Unicentral) para aquisição de alimentos diretamente de produtores locais. O contrato inicial, no valor de R$ 844.635,19, prevê a entrega de cerca de 108 toneladas de frutas, legumes e verduras cultivados por agricultores familiares ao longo de 12 meses, totalizando aproximadamente 470 mil refeições servidas no hospital.

Em agosto de 2025, foi lançada uma segunda chamada pública, ampliando a iniciativa com a inclusão de 30 novos produtos — arroz orgânico, feijões, leite, iogurtes, massas, pescados, panificados e outros itens —, representando mais de 55 toneladas de alimentos, no valor de R$ 1.071.831,16. Atualmente, 38% dos alimentos consumidos no HUSM já provêm da agricultura familiar, totalizando cerca de R$ 1,9 milhão em investimentos anuais.

Essa parceria inovadora articula saúde, segurança alimentar e desenvolvimento rural. Ela garante alimentos frescos, nutritivos e de qualidade aos pacientes, ao mesmo tempo em que fortalece a economia de nove cooperativas regionais, gera renda para centenas de famílias de agricultores e promove sustentabilidade ambiental. O sucesso da experiência transformou o HUSM em modelo: todos os outros 44 hospitais universitários federais da rede EBSERH passarão a adotar o mesmo sistema, garantindo que pelo menos 30% dos alimentos utilizados em suas cozinhas venham da agricultura familiar.

Novo Contrato Estadual Amplia Atendimento (2024-Presente)

O Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM-UFSM), vinculado à Ebserh, firmou um novo contrato com o Governo do Rio Grande do Sul que amplia em 63% o aporte financeiro anual, totalizando R$ 147 milhões via Programa de Fortalecimento do SUS (PROSUS). O investimento permitirá expandir serviços de alta complexidade — como traumatologia, ortopedia, cardiologia e hemodiálise —, modernizar equipamentos, reduzir filas de espera e aprimorar a qualidade e a segurança dos atendimentos, consolidando o HUSM como referência em saúde pública e hospital universitário de excelência.

O acordo representa um avanço histórico para a rede pública, fortalecendo o papel estratégico do HUSM e da Ebserh na oferta de assistência integral, ensino e pesquisa. Além de garantir sustentabilidade financeira, o contrato impulsiona a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento científico, reforçando o compromisso institucional com a eficiência, a humanização e a inovação no atendimento à população gaúcha.

Colhendo o Futuro que Plantamos Hoje

O SUS, os hospitais universitários e a EBSERH formam um ecossistema interdependente e potente, capaz de gerar simultaneamente saúde, conhecimento, renda e dignidade. Cada investimento nesse sistema é uma semente plantada — de cuidado, de ciência, de inclusão social.

O HUSM, com suas ações concretas e transformadoras dos últimos anos, mostra que é possível, sim, colher florestas de futuro. Florestas onde crianças com câncer são tratadas em ambientes renovados e humanizados, onde UTIs ganham novos leitos e profissionais qualificados, onde alimentos frescos da agricultura familiar chegam aos pratos dos pacientes, onde investimentos milionários modernizam estruturas antigas, e onde parcerias inovadoras criam modelos replicáveis nacionalmente.

Esse é o SUS que queremos e precisamos fortalecer: um sistema que não apenas trata doenças, mas que previne, que educa, que inclui, que desenvolve. Um sistema que reconhece em cada pessoa um cidadão de direitos e um agente de transformação. Um sistema que entende que investir em saúde é investir em economia, em educação, em justiça social, em futuro.

A colheita de renda e dignidade do SUS já está acontecendo — nas UTIs ampliadas do HUSM, nos contratos assinados com agricultores familiares, nas estruturas modernizadas pelo PAC, nos milhares de crianças tratadas no CTCriaC. Cabe a todos nós — gestores, profissionais de saúde, pesquisadores, cidadãos — continuar regando essas sementes, para que as florestas de futuro sejam cada vez mais densas, acolhedoras e capazes de proteger a todos com suas copas generosas.

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