Na manhã do dia 28 de outubro de 2025, as forças de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro deflagraram uma megaoperação nos complexos da Penha e do Alemão, que resultou em 121 mortos, entre eles quatro policiais. O objetivo era desarticular a articulação do Comando Vermelho, que vinha usando esses territórios como centro logístico para distribuição de drogas e armamentos pesados. Centenas de mandados foram cumpridos em áreas dominadas pela facção, onde eram constatadas barreiras, monitoramento armado e uma verdadeira estrutura de controle territorial paralelo.
A legitimidade dessa operação não pode ser analisada fora do contexto. Os policiais entraram em zonas de risco absoluto: confrontos diretos com criminosos portando fuzis, granadas, drones e barricadas estrategicamente posicionadas. Esses agentes sabiam que, ao cruzarem o limite entre a área pacificada e o território tomado pelo crime, colocavam em jogo a própria vida. Quando o Estado decide retomar uma área dominada pelo tráfico, a margem para erro é mínima. Cada passo é calculado, cada avanço é avaliado, porque o insucesso implica consequências profundas: o fortalecimento de facções, o aumento da impunidade e a consolidação de territórios onde o Estado deixa de existir. Em outras palavras, o fracasso significaria entregar a soberania a criminosos armados. O modus operandi adotado — entrada coordenada, uso de força, cumprimento de mandados — foi a resposta necessária diante da magnitude da ameaça.
É evidente que a realidade das comunidades periféricas é marcada por desigualdade, falta de oportunidades, evasão escolar, desemprego e ausência de políticas públicas que ofereçam alternativas reais aos jovens. Esse cenário influencia a vulnerabilidade e a captação de crianças e adolescentes pelo tráfico. Contudo, é preciso afirmar com clareza: reconhecer a desigualdade não significa relativizar o crime. E é nesse ponto que surge a crítica ao governo federal. Falta investimento estrutural para reverter o ciclo de abandono social que empurra jovens para as facções. O governo tem adotado um discurso que, frequentemente, coloca o criminoso como “vítima da sociedade” e os “traficantes como vítimas dos usuários”, sem apresentar políticas reais de mudança — educação de qualidade, esporte, cultura, profissionalização, inclusão produtiva. Quando a criminalidade é relativizada, e quando não se oferecem alternativas, cria-se um ambiente de permissividade que alimenta a escalada do tráfico.
Vivemos hoje uma preocupante inversão de valores. A sociedade está sendo diariamente influenciada a se sensibilizar com aquilo que a mídia e certos discursos chamam de “vítimas da sociedade”. Mas pouco se fala dos verdadeiros trabalhadores que saem de casa para exercer uma função cujo risco nenhum de nós aceitaria. O policial é colocado, muitas vezes, na posição de réu — enquanto aqueles que empunham fuzis e submetem comunidades ao medo são tratados como figura central do debate. Esse cenário é injusto e perverso. O policial tinha tudo a perder: sua vida, sua família, sua integridade. E mesmo assim entrou para cumprir o dever que o Estado e a sociedade lhe atribuíram.
Não se trata de celebrar mortes. Trata-se de reconhecer que há grupos armados que transformaram territórios inteiros em currais do crime, decidindo quem entra, quem sai, quem trabalha, quem vive e quem morre. Quando um Estado democrático deixa de intervir, ele abdica de sua função básica: proteger os cidadãos e garantir o direito de ir e vir. Defender o trabalho das forças de segurança não significa ignorar direitos humanos — significa reconhecer que sem ordem, não há direitos; sem segurança, não há liberdade; sem Estado, sobra apenas o domínio do crime.
A megaoperação nos Complexos da Penha e do Alemão explicitou uma disputa que não é apenas policial, mas moral e civilizatória. Enquanto continuarem existindo territórios onde o tráfico dita as regras, não podemos nos considerar uma nação plenamente democrática. A sociedade precisa compreender que defender a atuação policial — dentro da legalidade e com responsabilidade — é defender o direito de todos nós de viver sem medo.








