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Ouvido no Tutor e o Olho no Pet

Na sala de consulta, muitas vezes, o paciente não é só o pet. Do outro lado da mesa, um tutor aflito, inseguro ou até em luto exige tanto cuidado quanto o animal em exame. Com o tempo, percebi que ser veterinário é, também, ser ouvinte — e, em muitos momentos, quase um psicólogo improvisado.

É natural: o vínculo entre humanos e animais é profundo, afetivo e, muitas vezes, carregado de emoções que nem sempre sabemos nomear. Quando um tutor chega com seu cão ou gato doente, traz consigo uma carga de medo, culpa, ansiedade e até traumas passados. E quem está ali para acolher tudo isso? Nós.

Só que ninguém nos prepara para isso. A formação em medicina veterinária nos oferece conhecimentos clínicos, cirúrgicos, laboratoriais. Sabemos identificar doenças, tratar feridas, interpretar exames. Mas e quanto ao olhar empático, à escuta ativa, ao saber a hora de confortar — ou até de silenciar? Esses “sintomas” não vêm nos livros, mas aparecem em quase toda consulta.

Percebo que, muitas vezes, passo mais tempo acalmando o tutor do que tratando o animal. Explico diagnósticos com delicadeza, contorno medos, dou más notícias tentando ser firme e sensível ao mesmo tempo. E tudo isso sem ter sido treinado para lidar com as reações emocionais intensas que podem surgir.

Mais do que nunca, é hora de incluir na formação veterinária conteúdos sobre comunicação empática, saúde mental e gestão emocional. Não somos psicólogos, é verdade, mas aprendemos na prática que um bom atendimento vai além do exame físico: começa com a escuta.

Além disso, o estado emocional do tutor impacta diretamente o bem-estar do animal. Pets são extremamente sensíveis ao ambiente e, principalmente, às emoções de quem cuida deles. Um tutor ansioso, inseguro ou desesperado pode, sem perceber, transmitir esse estresse ao animal — o que pode agravar sintomas, dificultar diagnósticos e até interferir na recuperação. Quando conseguimos acolher e acalmar o tutor, criamos um ambiente mais seguro e equilibrado. E isso, por si só, já aumenta significativamente as chances de sucesso do tratamento.

Redação enFoco

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