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Paisagens submersas: aquarismo movimenta paixão e negócios em Santa Maria

Por Amanda Teixeira

Betta, palhaço, cascudo… Entre água doce e salgada, são dezenas de espécies de animais aquáticos que habitam os aquários e encantam seus donos. Mais do que um hobby, o aquarismo une estética e biologia, com a montagem de uma paisagem viva dentro de casa. Os peixes também atraem quem busca um pet que foge dos mais comuns. Mais do que peixes coloridos que decoram os ambientes, os aquários são capazes de reproduzir cenários submersos, a partir da combinação de plantas, pedras e animais. 

Quem vive esse mercado de perto é Lauder Constante Vielmo, proprietário da loja Hobby Aquários. O lojista sabe bem que este setor movimenta o comércio, mesmo distante das grandes capitais. Atualmente, ele é dono da única loja especializada no comércio de peixes no município. Desde 1998, atua na área realizando a montagem, manutenção e orientação de quem se interessa pelo aquarismo.

Lauder conta que o seu interesse por peixes começou após os filhos ganharem os animais em uma feira, e que, sem saber cuidar, eles acabaram morrendo. Sem desistir, começou a estudar sobre os cuidados necessários com a ajuda de um profissional, o que o levou a criar a loja: “tudo que não me ensinaram, eu comecei a ensinar para os clientes, aí um começou a indicar para o outro.”

O lojista destaca que o negócio ultrapassa os limites da cidade e atualmente vende até para outros países: “agora com a parte de água salgada também a gente tem clientes de todo Rio Grande do Sul, até fora. Por exemplo, no Uruguai, a gente tem clientes”. Lauder afirma que apesar da maioria dos compradores já terem algum entendimento sobre o ramo, o interesse costuma nascer em novos consumidores a partir das crianças. Além disso, o vendedor destaca o contato de arquitetos e urbanistas que buscam acrescentar o aquarismo em projetos. 

Entre os apaixonados pelo hobby está o advogado Rodrigo Gindri Fiorenza, que possui aquários em casa e no escritório. Ele afirma que o aquarismo no ambiente de trabalho “ajuda a tranquilizar o ambiente e permite o foco com o barulho da água, dá uma certa tranquilidade”. Seu interesse surgiu ainda na infância, quando teve um peixe Betta, e, anos depois, decidiu investir ao começar a morar sozinho. Hoje em dia, enquanto no escritório os peixes são de água doce, ele se aventurou nas paisagens marinhas em sua residência. Repleto de corais e todo iluminado, ele acredita que o aquário pode trazer boas energias para a casa.

Como começar no aquarismo?

Lauder explica que o início pode ser difícil e é normal que os primeiros peixes morram, mas busca auxiliar para que todo o processo ocorra da melhor forma possível: “a gente sempre orienta desde o início, a gente vai na casa do cliente para não ter problema. O aquário é prazeroso, mas ele leva um tempo para estabilizar. Tem toda a montagem, tem a estabilidade do aquário para depois começar a colocar os peixes.”

O docente do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Everton Behr, destaca que a escolha das espécies é um aspecto fundamental para determinar os cuidados necessários. Segundo ele, “um sistema eficiente faz toda a diferença e manter o controle sobre a qualidade de água também é fundamental, existem kits de análise de água que são facilmente encontrados em lojas de aquarismo.” Além disso, o vendedor lembra que algumas espécies não podem ser colocadas no mesmo aquário e é preciso determinar, com a ajuda profissional, se os peixes são compatíveis ou não.

Segundo a Associação Brasileira de Lojas de Aquariofilia (ABLA), o principal órgão fiscalizador do setor é o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA). Seu papel inclui acompanhar as cargas que transportam animais aquáticos vivos durante a comercialização entre empresas e monitorar o cadastro técnico federal (CTF), que toda empresa do setor deve possuir. A Polícia Ambiental também pode atuar nas inspeções. É importante que lojistas tenham o CTF atualizado, cópia das notas fiscais de compras dos animais e mantenha os peixes, camarões e caramujos em condições de bem-estar, com instalações adequadas. 

Também é preciso considerar os aspectos de cuidados ao meio ambiente ao entrar no universo do aquarismo. O professor da UFSM afirma que quando um criador desiste de criar os animais, não deve soltar na natureza:

“Existem vários exemplos em que o aquarismo foi responsável pela introdução de espécies em bacias hidrográficas onde não ocorrem naturalmente. Outro ponto é a captura de peixes nativos para criação em aquários, pois dependendo da espécie pode até ser ameaçada. Tal prática só pode ser realizada com autorização dos órgãos ambientais.”

Lauder explica que os peixes comercializados no Brasil são importados e que não é permitido que os animais e corais sejam retirados diretamente da natureza para criação. Porém, com responsabilidade e aprendizados, é possível transformar o aquarismo em um hobby sustentável e prazeroso.

Tendências no setor

Apesar de não existirem dados concretos sobre o número de lojas de aquariofilia no Brasil, o setor de aquarismo apresenta um bom crescimento nos últimos anos, conforme a ABLA. Um dos fatores que contribuiu foi a pandemia, que “consolidou o aquarismo como uma atividade importante no segmento pet, com muitas pessoas buscando novas atividades e hobbies em casa.”

Outro fator é o avanço tecnológico dos aquários, com o desenvolvimento de luminárias LED, sistemas de automação e equipamentos que facilitam a manutenção. Conforme a ABLA, as principais tendências envolvem “pequenos aquários plantados com pequenos peixes, camarões e caramujos, novas variedades de corais e a construção de lagos ornamentais que estão em alta na mídia, nas residências e em empresas.” O proprietário da Hobby Aquários afirma que o mercado tem potencial de crescer mais em Santa Maria, mas pode ser um dos gastos a serem cortados em momentos de crise financeira. 

Cada aquário se mostra como mais do que um enfeite, mas como uma maneira de se conectar com a natureza mesmo no ambiente urbano, de dentro de casa. A criação dos peixes exige cuidado e paciência, mas se mostra uma boa alternativa para quem não se interessa por pets mais tradicionais, como os cães e gatos. 

“Acreditamos que podemos crescer muito, pois o volume de aquários nas residências ainda é pequeno em relação a outros países. Precisamos divulgar mais e desmistificar o hobby que é considerado por muitos algo difícil de manter ou que tiveram experiências no passado erradas, para aumentarmos esse setor.” ABLA

Fotos: Amanda Teixeira, Reinaldo Guidolin e Rodrigo Gindri Fiorenza

Ana

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