O avanço da tecnologia e a criação de meios de pagamento instantâneo, como o Pix, trouxeram inúmeros benefícios à vida cotidiana dos brasileiros. Lançado pelo Banco Central do Brasil em 2020, o sistema revolucionou a forma como lidamos com dinheiro: as transferências são feitas em segundos, sem custo e em qualquer dia e horário. No entanto, como toda inovação, o Pix também abriu espaço para novas modalidades de crimes. Os chamados golpes do Pix tornaram-se uma epidemia digital, espalhando prejuízos financeiros, traumas emocionais e sensação de insegurança, com impactos que vão muito além da vítima individual — afetam o tecido social, as instituições financeiras e a credibilidade dos mecanismos de pagamento.
A principal finalidade do Pix, que seria dar mais autonomia e agilidade ao consumidor, também é sua maior vulnerabilidade. A liquidez imediata das transações, que impede o estorno ou cancelamento após a transferência, criou o cenário ideal para golpistas. Diversas modalidades de fraude foram desenvolvidas, com destaque para:
– Engenharia social: os criminosos exploram fragilidades emocionais das vítimas para induzi-las ao erro. Promessas de empréstimos fáceis, falsas ofertas de emprego, promoções inexistentes ou situações emergenciais envolvendo entes queridos são armas eficazes nesse tipo de crime.
– Falso suporte bancário: estelionatários se passam por atendentes de banco, convencendo as vítimas a “validar” ou “desbloquear” suas contas — tudo, é claro, por meio de transferências via Pix.
– Golpe do falso pagamento: aqui, o golpista simula ter feito um pagamento e exige o envio de produto ou reembolso, usando comprovantes falsificados.
– Falso advogado: um golpe cruel e crescente, que se vale da autoridade da figura profissional. O criminoso afirma que a teve sucesso em uma demanda judicial sua e que necessita realizar o pagamento através do Pix, para que asism possa receber o valor da ação.
Embora cada caso de golpe do Pix pareça isolado, o impacto se alastra como ondas em um lago. Há efeitos econômicos, institucionais e sociais de grande magnitude.
No plano econômico, os prejuízos são expressivos. Em estudo elaborado pela Empresa real ACI Worldwide, divulgada através de relatório produzido pela consultoria GlobalDAta, estima-se que até 2028, os Golpes com Pix vão gerar prejuízo anual de mais de 11 bilhões para bancos e consumidores, com um crescimento projetado de 39% no sistema de pagamentos instântaneos, bilhões em fraudes digitais, com parte significativa atribuída ao Pix. Esse dinheiro, que deixa de circular na economia formal, alimenta redes criminosas, muitas vezes ligadas a organizações mais amplas, inclusive com conexões com o tráfico de drogas e milícias.
No plano institucional, cresce a desconfiança nos sistemas bancários e no próprio Pix. Isso freia a adesão de novos usuários e prejudica os esforços de inclusão financeira, já que as fraudes se concretizam, pela falha existente na segurança da informação dos bancos, que tem a obrigatoriedade de proteger esses dados, e evitar os danos causados pelos golpistas aos consumidores através da utilização do Sistema bancário.
Ainda mais preocupante, é a inércia estatal em fiscalizar se de fato as instituições financeiras estão utilizando mecanismos e adotando os procedimentos de segurança capazes de garantir a confidencialidade das informações dos dados sigilosos dos consumidores junto as instituições financeiras e reparação dos danos sofridos, gerando dessa forma um sentimento de impunidade, o que, por sua vez, encoraja a reincidência dos criminosos e a falta de procedimentos adequados de segurança por parte das instituições financeiras.
No plano social, instala-se um clima de medo e insegurança digital. A vítima não perde apenas dinheiro — ela perde a confiança em seus próprios julgamentos, sente vergonha, culpa, e muitas vezes não denuncia por receio de ser culpabilizada. Isso perpetua o ciclo de silêncio e dificulta a atuação repressiva e preventiva dos órgãos competentes.
Combater os golpes do Pix não é responsabilidade exclusiva da vítima, mas sim das instituições bancárias, do sistema judiciário e também do Sistema estatal. Trata-se de um desafio estrutural, que exige articulação entre o Estado, empresas privadas, mídia e sociedade civil.
É imprescindível, que haja um olhar diferente e se encontre alternativas a fim evitar tais condutas, para isso algumas situações são importantes, tais como:
– Campanhas permanentes de conscientização, com linguagem acessível, especialmente voltadas aos grupos mais vulneráveis;
– Educação digital nas escolas e ambientes comunitários, abordando temas como segurança online, proteção de dados e desconfiança saudável em ambientes digitais;
– Melhorias nas ferramentas de segurança bancária, como limites personalizados de transferência, autenticação dupla, e possibilidade de bloqueio rápido via aplicativos, bem como maior segurança dos sistemas internos a fim de evitar que os rackers acessem o Sistema bancário e dessa froma tenham acesso as informações dos consumidores;
– Revisão legislativa, para adaptar as normas penais e processuais à velocidade dos crimes digitais e garantir maior celeridade nas investigações e punições;
– Apoio psicológico e jurídico às vítimas, com canais de atendimento adequados e desburocratizados.
Os golpes via Pix são o retrato moderno de uma sociedade em transição digital: ao mesmo tempo em que avançamos em tecnologia, ainda tropeçamos na educação e na proteção social. O combate a essa epidemia exige mais que tecnologia — exige empatia, prevenção e política pública séria.
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