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Por que ainda é tão difícil uma mulher apoiar outra mulher? (E por que precisamos falar disso com urgência)

Quando a crítica fala mais alto que o apoio

Quantas vezes você já ouviu – ou pensou – algo como: “Será que ela é tudo isso mesmo?” ao ver outra mulher conquistar algo importante? Quantas vezes, em vez de celebrar, surgiram ruídos, dúvidas ou até desconfiança?

É desconfortável admitir, mas precisamos olhar para isso com honestidade: por que, mesmo lutando por mais espaço no mundo dos negócios, tantas de nós ainda alimentam rivalidade feminina?

Não é culpa só sua: as feridas são antigas

A psicanálise tem um nome para isso: heranças emocionais não elaboradas. A primeira relação de qualquer mulher com outra mulher é com a mãe – ou com a figura materna que a criou. Se, nessa relação, o afeto vinha condicionado a performance, obediência ou comparação com outras crianças, aprendemos, muito cedo, que amor e reconhecimento são escassos e precisam ser conquistados.

Na vida adulta, esse padrão se manifesta de forma sutil: a conquista da outra pode acionar em nós a sensação infantil de “perder espaço no colo da mãe”. Não é racional, é emocional – e por isso tão difícil de quebrar e reabilitar.

A terapia sistêmica aprofunda esse olhar mostrando que repetimos, sem perceber, a rivalidade que vivemos no sistema familiar. Quando não ressignificamos essas feridas, carregamos para os negócios a mesma lógica: “Se ela brilha, sobra menos para mim.”

Uma sociedade que alimenta essa escassez

Não é apenas sobre nossas histórias pessoais – é sobre um sistema que nos coloca, desde sempre, para competir.

Segundo um estudo da Harvard Business Review (2023), mulheres em cargos de liderança são julgadas 30% mais duramente por outras mulheres do que por homens. Não porque somos “piores”, mas porque fomos treinadas para disputar as poucas vagas disponíveis para nós.

No Brasil, só 19% dos cargos executivos são ocupados por mulheres (Instituto Ethos, 2023). Em ambientes com tão pouca representatividade, a lógica da escassez domina: sentimos que “só cabe uma”. E, nesse cenário, apoiar a outra parece renunciar ao nosso próprio lugar.

Quando o sistema só abre “uma cadeira” para nós, é natural que muitas sintam que apoiar a outra é “abrir mão”, mas essa lógica precisa ser quebrada – e rápido, porque enquanto eu ainda estiver querendo buscar lugares eu estrarei fora do meu lugar e fora do meu lugar não existe prosperidade a trajetória fica cansativa e o que fica é a sensação de que nada dá certo.

Apoiar é um ato de coragem (e de cura)

A boa notícia é que podemos mudar isso – mas exige coragem. Coragem de olhar para nossas feridas e, conscientemente, quebrar o padrão.

A terapia sistêmica mostra que apoiar outra mulher é, antes de tudo, um ato de reparação interna. Quando escolhemos a colaboração, estamos, simbolicamente, oferecendo à outra o acolhimento que gostaríamos de ter recebido.

E não é só bonito, é eficaz: mulheres que constroem redes de apoio femininas consistentes têm 65% mais chances de alcançar cargos de liderança (Kellogg School of Management, 2022). Apoiar outra mulher é, sim, um ato de amor – mas também de estratégia.

Um novo pacto feminino

No movimento Empreendedorismo e Elas, acreditamos que o verdadeiro crescimento vem quando baixamos a guarda e substituímos comparação por colaboração.

Por isso, te deixo um convite (ou um desafio): qual foi a última vez que você elogiou, indicou ou defendeu outra mulher sem hesitar? Ou pelo menos escolheu não fazer parte de uma “roda de conversa” que fale mal de outra mulher”?

Apoiar é um ato revolucionário. É dizer ao mundo – e a nós mesmas – que existe espaço para todas , mas este é um assunto para uma próxima coluna bjs da Michi.

Michi Milanni

Enfermeira, Terapeuta Sistêmica de negócios e idealizado do movimento Empreendedorismo e elas.

Redação enFoco

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