A indignação tomou conta de Santa Maria, e com razão. O anúncio do aumento da passagem de ônibus de R$5 para R$6,50 não é um mero reajuste de planilha; é um golpe direto no bolso e na dignidade de quem mais depende do transporte público para viver, trabalhar e sonhar. É a oficialização de que, em nossa cidade, o direito fundamental de ir e vir tem um preço cada vez mais excludente. Precisamos ser honestos: este aumento é o sintoma de um sistema de transporte coletivo falido. Vivemos um ciclo vicioso onde a frota precária e os horários desrespeitados afastam os passageiros.
A resposta, invariavelmente, é punir quem fica: aumentar a tarifa. Com o preço mais alto, mais pessoas abandonam o sistema, a arrecadação cai e, convenientemente, cria-se a justificativa para o próximo aumento. É uma lógica que serve às empresas, mas condena a população. Enquanto isso, a conta recai sobre o trabalhador que precisa chegar ao emprego, sobre o estudante que talvez tenha que escolher entre uma cópia de livro e o ônibus, e sobre a população mais pobre, que se vê cada vez mais ilhada em seus bairros. As recentes paralisações dos próprios trabalhadores do setor são a prova viva dessa falência sistêmica. Mas não basta denunciar. É preciso apontar um caminho. E ele existe, não como utopia, mas como política pública responsável já implementada em mais de 130 cidades brasileiras: a Tarifa Zero.
Municípios como Maricá (RJ) e Caucaia (CE) demonstram os resultados extraordinários dessa política. Com a catraca livre, o comércio local floresce, o acesso à saúde e à educação é democratizado e a economia da cidade ganha um novo fôlego. As pessoas circulam, consomem e vivem a cidade de forma plena. À inevitável pergunta “quem paga a conta?”, a resposta é direta: nós já pagamos. Pagamos através de subsídios que saem dos nossos impostos, do tempo perdido no trânsito, da poluição que adoece nossas famílias e do custo de vida elevado. A Tarifa Zero não cria um custo novo; ela o realoca, tratando o transporte como o que ele é: um serviço essencial, um investimento no bem-estar coletivo e na saúde econômica e ambiental da cidade.
A escolha diante de Santa Maria é clara. De um lado, a insistência em um modelo falido que pune os mais pobres e aprofunda a desigualdade, materializado na passagem de R$6,50. Do outro, a coragem de enxergar o transporte como um direito, não como uma mercadoria. Chega de tratar o povo como cliente e as empresas como prioridade. A luta para barrar este aumento é o primeiro passo. A meta final é mais audaciosa e justa: a catraca tem que cair. Por uma Santa Maria com Tarifa Zero.