No silêncio das madrugadas, enquanto a cidade ainda dorme e os plantões aguardam, Roberta Trevisan escreve. Delegada de polícia em Santa Maria e autora de uma série de livros infantojuvenis protagonizados pela curiosa Matilda, ela encontrou na literatura um ponto de equilíbrio entre o real e o imaginado.
A relação com a escrita começou cedo. “Na segunda ou terceira série, escrevi um texto chamado A Florzinha Feliz e a professora colocou ele na prova para os colegas adivinharem quem era a autora. Era mimeografado, com sete espacinhos para preenchimento. Nunca mais esqueci disso”, conta.
Apesar da paixão pelos livros, a escolha profissional foi pelo Direito, motivada, principalmente, pela admiração pelas histórias policiais de Agatha Christie. “Fiz Direito porque queria viver essa realidade para depois escrever sobre ela.”
Com a aprovação em concurso público, Roberta assumiu o cargo de delegada. Casamento, filhos, plantões. A escrita ficou em pausa. Ainda assim, continuava a ler e, vez ou outra, a escrever contos que foram publicados em antologias. “Achei que escrever era só inspiração, mas não é. É trabalho. Tu te tornas escritora quando entende isso.”
Foi em 2019, após um plantão noturno, que um momento simples reacendeu o desejo de escrever. No salão de beleza, viu uma menina segurando um livro chamado A Garota Detetive, e se viu naquela criança. “Naquela noite, exausta, nasceu o nome da personagem e o título: Matilda e o Clube de Leitura.”
A personagem Matilda, de 11 anos, é curiosa, leitora e investigadora. Com ela, Roberta iniciou uma série de livros infantojuvenis inspirada nas estações do ano. O primeiro livro representa o verão; o segundo, o inverno; o terceiro, a primavera. O outono está em produção. E, se depender do filho mais velho da autora, um quinto volume deve chegar com uma “nova estação”.
“Ele disse: ‘A Matilda precisa viver todas as estações juntas’. Como negar isso a uma criança que cresceu acompanhando a história junto comigo?”, diz Roberta.
Os livros de Matilda têm ilustrações assinadas por Gisela e pelo artista Claudio Toscan Jr., que também organizou uma exposição com as obras em Florianópolis. A produção da obra também envolveu a escritora Camila Caetano e a editora Vitrola, de Frederico Westphalen.
O trabalho já ultrapassou as páginas: Matilda virou leitura obrigatória em escolas de Santa Maria e Blumenau. Em uma dissertação de mestrado, a professora Cádia Carus usou a obra para refletir sobre o impacto da pandemia na aprendizagem das crianças.
Entre plantões na Delegacia de Pronto Atendimento e a criação dos filhos, Roberta acorda todos os dias às 5h30 da manhã para escrever. “Domingo, todo mundo já sabe: é o dia que a mãe escreve”, brinca. E quando não está escrevendo, está lendo. “Tu só te sentes inspirada no momento que tu senta para escrever.”
Os cursos de escrita criativa, especialmente com o professor Rodrigo Gurgel, ajudaram a consolidar sua visão de que escrever é ofício. Leu autores como Stephen King e Haruki Murakami para entender processos criativos e encontrar o seu.
“Hoje sei que funciono assim: crio os personagens e jogo eles em uma situação. Depois, reescrevo tudo até que faça sentido. É assim que a história nasce.”
Além de Matilda, Roberta se dedica agora à escrita de um romance policial para o público adulto. Suas leituras ainda incluem Agatha Christie, Hemingway, Stephen King e até uma recente releitura da série Harry Potter.
“A escrita me permite transformar uma realidade bruta, como a que vivo na delegacia, em algo mais suave, mágico. A Matilda é minha ponte entre esses dois mundos”, resume.
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