Romaria da Terra: fé, solidariedade e compromisso social

Valdir Oliveira

Na última terça-feira de Carnaval, estive no município de Arroio do Meio para participar, pela primeira vez, da tradicional Romaria da Terra do Rio Grande do Sul. O evento itinerante, promovido anualmente por instituições como a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), reúne fiéis, comunidades e lideranças comprometidas com a preservação do meio ambiente e a defesa dos direitos humanos. Sob um sol intenso, caminhei ao lado dos amigos do Projeto Esperança/Cooesperança de Santa Maria; do meu irmão, deputado Valdeci Oliveira; do presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto; do ex-governador Olívio Dutra e demais lideranças políticas do estado, junto a milhares de romeiros e romeiras nesta 47ª edição, que teve como tema “Reconstruir e cuidar da Casa Comum com fé, esperança e solidariedade”.

“E se fosse sua casa?” A reflexão estampada em muitos cartazes nos convocava a pensar no significado profundo da escolha do Vale do Taquari como sede da romaria deste ano. A região foi duramente atingida pelas enchentes que assolaram o estado em 2024, deixando marcas de destruição visíveis até hoje. A concentração para a procissão aconteceu no Seminário Sagrado Coração de Jesus, local que, durante a enchente, serviu de abrigo para muitas pessoas atingidas. A caminhada de 2,5 km pela cidade foi um testemunho dessa realidade: escolas, postos de saúde, templos religiosos e inúmeras casas ainda permanecem em ruínas. Marcas vermelhas nos prédios indicavam até onde a água chegou — em alguns pontos, atingindo o segundo ou terceiro piso das construções.

Ao longo do percurso, informações e encenações lembravam o número de vítimas e o esforço de voluntários no resgate e apoio às famílias atingidas. Foi impossível não se emocionar diante da fé e da resistência desse povo que, mesmo diante das dificuldades, segue lutando pelos direitos dos atingidos pela catástrofe. Na praça central de Arroio do Meio, ao fim da caminhada, uma missa e apresentações artísticas encerraram um dia de profunda conexão entre fé e compromisso social.

A Romaria da Terra, além de ser um ato de fé, também fortalece iniciativas de economia popular solidária e agroecologia. No evento, 20 grupos de agricultores, artesãos e comunidades indígenas apresentaram suas experiências e comercializaram produtos, muitos dos quais também foram doados para o café da manhã dos participantes.

Mais do que uma tradição religiosa, a Romaria da Terra nos lembra que a fé, quando aliada à luta por um mundo mais justo, se torna um poderoso instrumento de transformação. E a caminhada continua: em 2026, a 48ª edição do encontro será no Santuário do Caaró, em Caibaté, na Diocese de Santo Ângelo, mantendo viva essa trajetória de fé e esperança.