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Santa Maria e seus desafios ambientais: um olhar necessário no aniversário da cidade

Neste sábado, Santa Maria celebra mais um ano de história. Conhecida como “Coração do Rio Grande”, a cidade é marcada por sua diversidade cultural, importância educacional e localização estratégica. No entanto, por trás das conquistas, persistem desafios ambientais que impactam diretamente a qualidade de vida da população e o futuro sustentável do município. Se queremos pensar a cidade para as próximas gerações, precisamos encarar com mais seriedade o que temos ignorado por tempo demais: o descaso com os nossos recursos naturais, a falta de estrutura ambiental e a negligência com as populações mais vulneráveis.

O saneamento básico ainda é uma das questões mais críticas de Santa Maria. Embora existam obras em andamento e metas de cobertura da rede de esgoto que avançam lentamente, muitas regiões ainda convivem com esgoto a céu aberto, fossas precárias e ligações clandestinas. O Arroio Cadena, por exemplo, é símbolo dessa fragilidade: um curso d’água que há décadas sofre com a poluição doméstica e industrial, sem que se tenha efetivamente conseguido recuperá-lo. A falta de coleta e tratamento adequado do esgoto resulta na contaminação de mananciais, na degradação da qualidade da água e no aumento de riscos à saúde pública.

O problema se intensifica quando olhamos para a gestão dos resíduos sólidos. A coleta seletiva em Santa Maria ainda é limitada, mal divulgada e pouco valorizada. Embora existam iniciativas locais e esforços de associações de catadores, a ausência de uma política de incentivo à reciclagem e à logística reversa ainda compromete o sistema como um todo. Além disso, o descarte incorreto de resíduos impacta diretamente a drenagem urbana, agravando enchentes e bloqueando sistemas pluviais.

A cidade também enfrenta grandes desafios relacionados à ocupação do solo e aos efeitos das mudanças climáticas. Os eventos extremos de 2024, como as fortes chuvas e alagamentos, expuseram a vulnerabilidade da nossa infraestrutura urbana e a ausência de planejamento em áreas de risco. A Vila Canário, no Morro Cechela, é um retrato disso: duramente atingida, a comunidade permanece abandonada, sem um plano efetivo de recuperação socioambiental ou realocação digna. Os eventos climáticos não são exceções — são alertas que vêm sendo ignorados. A mesma chuva que arrasta telhados e invade casas também revela as falhas crônicas de planejamento territorial e proteção das áreas de risco, onde moram os mais esquecidos.

Ainda que Santa Maria possua áreas naturais importantes, como o Parque Natural Municipal dos Morros, a preservação ambiental não é prioridade no ritmo de expansão urbana da cidade. A pressão por novos loteamentos, o avanço irregular sobre áreas verdes e a ausência de um plano urbanístico atualizado colocam em risco ecossistemas frágeis e essenciais para o equilíbrio ambiental. Neste ano, finalmente iniciou-se o processo de construção do Plano de Arborização Urbana — uma ação que deveria ter começado décadas atrás. Ao longo do tempo, vimos a cidade crescer sem uma política clara de arborização, o que resultou em bairros inteiros sem sombra, em calçadas quebradas por raízes de espécies mal escolhidas, em ausência de conforto térmico e aumento das ilhas de calor urbano. Planejar o verde é tão importante quanto planejar o asfalto. Árvores não são decoração: são infraestrutura ambiental, regulação térmica, conforto urbano e resiliência climática.

Outro entrave significativo para o avanço ambiental é a morosidade nos processos de licenciamento. Isso prejudica tanto quem busca empreender legalmente quanto a fiscalização de empreendimentos que já operam em desacordo com as normas ambientais e tentam se regularizar dentro da realidade que enfrentam no dia-a-dia. Além disso, muitos processos ainda ignoram a urgência de incorporar critérios relacionados à crise climática e à resiliência urbana. Sem um olhar mais integrado, o licenciamento deixa de ser um instrumento de prevenção e passa a ser apenas um trâmite formal e burocrático.

Apesar de esforços isolados de universidades, escolas, associações e lideranças comunitárias, Santa Maria ainda não consolidou uma política ambiental efetiva, duradoura e transversal. As ações ocorrem, muitas vezes, por demanda de crise, sem planejamento de longo prazo, sem integração entre setores e sem diálogo com a população. O desafio é estrutural, político e cultural.

Neste aniversário da cidade, é tempo de celebrar as conquistas, sim — mas também de olhar com coragem para o que precisa mudar. Os desafios estão postos. Que tenhamos, daqui pra frente, mais ação do que discurso. O cuidado com o ambiente não pode ser apenas retórico ou comemorativo. Ele precisa ser diário, estruturado e real. Cuidar de Santa Maria é cuidar da água que nos abastece, do solo que sustenta nossas casas, do ar que respiramos e da dignidade das comunidades mais vulneráveis. Uma cidade sustentável começa quando ela aprende a ouvir o que a natureza vem dizendo há muito tempo — e começa a agir com coragem.

Redação enFoco

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