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Santa Maria está adoecendo — e não podemos mais ignorar

       Assumo este espaço com a consciência muito clara do compromisso que firmei com Santa Maria e com o nosso povo. É com esse senso de responsabilidade que venho, mais uma vez, levantar uma das questões mais urgentes e desafiadoras da nossa realidade atual: a situação das pessoas em situação de rua em nossa cidade.

       Todos os dias, ao circularmos pelo centro, pelas avenidas e praças, nos deparamos com rostos marcados pelo sofrimento, com olhares perdidos que pedem socorro mesmo quando silenciosos. São homens, mulheres, jovens, idosos, pessoas que perderam vínculos familiares, que foram vencidas pela dependência química, pela extrema pobreza, por transtornos mentais ou simplesmente pela falta de oportunidades.

       Eles não estão nas ruas por escolha, como infelizmente ainda se ouve por aí. Estão porque, em algum momento, a vida lhes arrancou tudo até mesmo a dignidade.

       Muitos questionam: “Por que essas pessoas não vão para abrigos ou casas de passagem?” E eu respondo com uma outra pergunta: como esperar que alguém que vive à margem, muitas vezes em sofrimento psíquico, sem documentos, sem estrutura emocional, aceite regras e horários rígidos, quando esse modelo, para eles, mais se assemelha a uma prisão do que a um acolhimento?

       Sim, alguns recusam ajuda. Mas isso não significa que escolheram viver na rua. Significa que já perderam até o olhar acolhedor da própria família, muitas vezes exausta, sem apoio e sem ferramentas para continuar lutando.

        E enquanto isso, a cidade sente os impactos. Não podemos mais fingir que essa realidade não afeta todos os setores. Comerciantes, lojistas, pequenos empreendedores têm me procurado  e o relato é quase sempre o mesmo: lojas fechando, clientela com medo, prejuízo econômico crescente. Não é preconceito. É fato. Pessoas em sofrimento, muitas vezes alteradas por drogas ou em surto, assustam e até agridem. Isso gera medo, gera afastamento, gera colapso.

       Santa Maria está, sim, adoecendo. Como um corpo com uma ferida aberta. E essa ferida são as nossas ruas: expostas, sangrando. De um lado, pessoas sem perspectiva, jogadas à própria sorte. Do outro, cidadãos que vivem sob o peso do medo e da insegurança. E se não cuidarmos dessa ferida com a seriedade e a urgência que ela exige, ela vai infeccionar. E já está infeccionando.

       Precisamos de soluções concretas. A internação compulsória, quando bem aplicada e dentro dos critérios legais e éticos, pode salvar vidas. Mas hoje, não temos vagas suficientes. Não temos centros de recuperação em número adequado. Falta uma rede de acolhimento eficiente, digna, estruturada. Mas há luz no horizonte.

        Com muito esforço e diálogo entre os poderes, conseguimos tirar do papel o projeto de criação do Centro POP de Santa Maria. Um espaço que nasce como política pública humanizada, articulado com o Poder Executivo e a Secretaria de Desenvolvimento Social. Um lugar de escuta, de encaminhamento, de acolhimento. Um lugar onde essas pessoas serão tratadas como o que são: seres humanos.

       Aceitei, com honra e responsabilidade, presidir a Comissão Especial que trata da criação deste Centro POP. Porque acredito que é possível, sim, conciliar os direitos de quem vive em situação de rua com o direito dos comerciantes, das famílias, dos trabalhadores que querem viver com dignidade e segurança.Mas eu não farei isso sozinho. Não posso fazer isso sozinho.

       E é por isso que deixo aqui um apelo direto: que todos os vereadores, lideranças, servidores públicos e cidadãos conscientes unam forças. Não se trata de partido, de ideologia, de vaidade política. Trata-se de vidas humanas. De uma cidade inteira clamando por respostas.

       Que Santa Maria seja lembrada como a cidade que não se omitiu. Que enfrentou o problema de frente, com coragem, humanidade e responsabilidade. Que esta Câmara seja lembrada como a casa que não lavou as mãos, mas que construiu caminhos possíveis e transformadores.

       Eu sou comprometido com essa causa. Com quem sofre na calçada. Com quem tem medo de abrir as portas do seu negócio. Com a verdade, por mais dura que ela seja. E é por isso que continuarei lutando. Para que essa ferida seja tratada com seriedade. Para que Santa Maria não continue adoecendo em silêncio. E para que dignidade seja, de fato, um direito de todos.

Vereador Rudys
Presidente da Comissão Especial para a criação do Centro POP de Santa Maria

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