Imagine o campo não apenas como fonte de alimentos, mas como protagonista da solução para as mudanças climáticas. A agropecuária, tão importante para a nossa economia e para garantir comida na mesa, agora pode ser também uma aliada do meio ambiente. Quando o produtor rural adota boas práticas como o plantio direto, sistemas integrados e uso de bioinsumos, está contribuindo para reduzir gases de efeito estufa e até mesmo capturar CO₂ da atmosfera. Isso faz toda a diferença para o clima e para o futuro do planeta.
Essas ações abrem portas para um mercado promissor: o mercado de carbono. Em 2023, uma tonelada de carbono gerada pelo agro valia cerca de US$ 6,51, mas há uma expectativa real de que esse valor possa ser revisto e ampliado, para atingir as metas do Acordo de Paris. O momento é de oportunidade para quem está atento e disposto a mudar.
No Brasil, existem dois mercados de carbono: o voluntário, onde tu podes participar, e o regulado, voltado para grandes empresas e governos. O mercado regulado, criado pela Lei nº 15.042/2024, ainda não inclui o agro, mas tudo indica que, em breve, os produtores rurais poderão também fazer parte desse cenário. Em 2027, começam a validação das metodologias para gerar créditos, e em 2028 o mercado regulado deve começar a operar. Ou seja, quem se preparar agora estará à frente quando esse mercado crescer e os preços subirem.
Mas não é tão simples assim, não basta apenas adotar boas práticas. É preciso seguir um caminho: elaborar um projeto, validar com auditoria independente, registrar junto a uma certificadora, monitorar as atividades e, por fim, emitir os créditos para comercialização. Sim, há custos, mas no Brasil já se discute formas de tornar esse processo mais acessível para pequenos e médios produtores.
Nós, da Emater/RS-Ascar, há décadas orientamos produtores a adotarem práticas sustentáveis, não só para reduzir emissões, mas também para conservar solo, água e biodiversidade. Nosso objetivo é simples: proteger o planeta e garantir um futuro melhor para todos.
Um exemplo inspirador vem da região Central do Estado. Há cerca de 30 anos, incentivamos sistemas silvipastoris, onde floresta, pasto e gado convivem em harmonia. Agora, pesquisadores da UFSM estão medindo quanto carbono essas florestas armazenam, mostrando o potencial real desses sistemas. Uma única árvore pode retirar da atmosfera muitos quilos de CO₂, armazenando-o em suas folhas, tronco e raízes. Essa pesquisa, financiada pela Fapergs, vai trazer ainda mais conhecimento e oportunidades para o nosso agro.
O mercado de carbono, voluntário e regulado, já está caminhando e o Brasil tem um gigantesco potencial. Nós, da Emater/RS-Ascar, estamos atentos e presentes nesse debate. O futuro do campo está nas nossas mãos e juntos podemos transformar boas práticas em renda e sustentabilidade.
Guilherme G. dos Santos Passamani
Engenheiro agrônomo, doutor em Agronomia
Gerente da Emater/RS-Ascar regional de Santa Maria
e-mail: ggsantos@emater.tche.br