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Sete de anos de espera e justiça para o feminicídio de Isadora Viana

Sete anos. Esse é o tempo que a família de Isadora Viana Costa, jovem santa-mariense brutalmente assassinada em 2018, espera para ver o réu finalmente ser julgado. Sete anos em que a vida de Isadora foi reduzida a estatística e a justiça foi adiada, mais uma vez, para uma mulher vítima de feminicídio.

A jovem de 22 anos foi assassinada em Imbituba (SC), cidade onde havia se mudado em busca de oportunidades. Morreu por asfixia e violência física, num crime cuja motivação do assassino e ex-companheiro— esconder o uso de drogas da própria família — revela o quanto o controle sobre os corpos e as decisões das mulheres continua sendo naturalizado por parte dos homens e, infelizmente, também por instituições que deveriam protegê-las.

O julgamento do acusado, Paulo Odilon de Xisto Filho, foi adiado repetidamente ao longo dos anos. O uso exaustivo de recursos jurídicos permitiu que ele estivesse em liberdade em diversos momentos, enquanto a memória de Isadora era arranhada e a sua família sofria. Como bem destacou a deputada federal Maria do Rosário, relatora da Comissão Externa da Câmara dos Deputados que acompanha os feminicídios no Rio Grande do Sul, esse caso é “um mau exemplo” de como o sistema de Justiça brasileiro tem lidado com a violência de gênero. Houve tentativa de isenção do agressor e até indícios de alteração da cena do crime.

Não podemos aceitar que o país trate os feminicídios com tamanha lentidão, desleixo e permissividade. Isadora foi assassinada fora do seu estado, o que dificultou ainda mais a busca por justiça — realidade vivida por tantas mulheres migrantes, trabalhadoras, que enfrentam sozinhas os obstáculos do sistema.

Santa Maria, nossa cidade, aparece em rankings como uma das piores cidades do país para ser mulher. O feminicídio não é um caso isolado. É parte de um padrão estrutural de violência que nos atravessa todos os dias — nas ruas, dentro de casa, nos relacionamentos, no trabalho. E é agravado pela omissão do Estado, pela precarização das políticas públicas e pela ausência de uma rede de apoio eficaz.

Como uma vereadora que luta pelo direito das mulheres, não posso me calar diante de tamanha injustiça. O caso de Isadora nos convoca a fortalecer o debate sobre o papel das instituições na proteção das mulheres. É urgente que o Judiciário, o Legislativo e o Executivo se comprometam, de fato, com o enfrentamento à violência de gênero. Isso inclui desde a ampliação da rede de proteção até a responsabilização ágil e efetiva dos agressores.

À família de Isadora, minha profunda solidariedade. Que o julgamento marcado para setembro não seja mais uma decepção. Que seja, ao menos, um passo no caminho da reparação — ainda que tardia. E que o nome de Isadora Viana Costa jamais seja esquecido. Por ela, por tantas.

Ana

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