Andar por Santa Maria hoje é um exercício de paciência e resignação. As ruas não são mais ruas, mas um mosaico de asfalto esburacado e remendos mal feitos, uma verdadeira prova de resistência para suspensões dos carros. As calçadas, então, são um capítulo à parte: lajes desniveladas, buracos que se transformam em armadilhas na primeira chuva, um desrespeito total com o pedestre, com o idoso, com o cadeirante, com todos.
O centro, coração pulsante do comércio, hoje vive com o medo. Os roubos se tornaram uma rotina tão comum quanto o fechar das lojas ao entardecer. A sensação de insegurança é palpável, um fantasma que assombra as vitrines e afasta os poucos que ainda se aventuram para um passeio pelo Calçadão.
E o verde? Onde foi parar o verde? As praças, que deveriam ser pulmões de alegria e convívio, estão secas, cinzentas, malcuidadas. Cada árvore que cede lugar a um lote de concreto é uma sombra a menos, um pouco mais de calor a mais. A cidade esquenta, fica árida, triste. Opções de lazer ao ar livre, que não sejam um shopping center, são escassas. É uma cidade que oferece pouco aos seus próprios cidadãos, condenando-os ao tédio entre quatro paredes.
Diante desse cenário de abandono generalizado, a grande notícia que ecoa é a construção do prédio mais alto do Rio Grande do Sul.
E a pergunta que não quer calar é: para quê?
Como uma cidade que não consegue cuidar do básico, pode se dar ao luxo de ambicionar um marco de ostentação como esse? Que tipo de turista queremos atrair? Para que ele virá? Para tirar uma foto de um prédio alto e depois, ao dar dois passos, ter seu carro engolido por uma cratera, ou pior, ser vítima da insegurança que assola o centro?
É uma ironia cruel. Queremos mostrar grandiosidade para fora, mas somos incapazes de fornecer dignidade para dentro. O discurso é de metrópole, mas a realidade é de cidade do interior que parou no tempo e negligenciou sua própria gente. Santa Maria é grande no tamanho, mas possui a mentalidade e o desenvolvimento de uma cidade pequena: foca no que aparenta ser grandioso, e ignora completamente o que é essencial.
É triste ver o concreto tomar conta. É desanimador constatar que a ambição desmedida vem às custas do bem-estar e da alegria de quem vive o dia a dia dessa cidade. Antes de pensar em mais prédios, Santa Maria precisa urgentemente lembrar como ser acolhedora, segura, verde e vibrante para os seus. Porque sem isso, o prédio mais alto será apenas um monumento à vaidade, um espelho que reflete para o céu tudo o que falta aqui embaixo.
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