Por Mariana Rodrigues
O Brasil já foi referência mundial em vacinação. Mas, nos últimos anos, o que se vê é uma queda preocupante nos índices de cobertura vacinal. No Rio Grande do Sul, essa realidade não é diferente.
A baixa adesão a campanhas de imunização tem reaberto espaço para doenças que estavam sob controle ou até mesmo erradicadas, voltarem a representar risco. Franciele da Rosa, enfermeira e gerente da Clínica de Vacinas Multivacin há 13 anos, expressa preocupação diante da situação. “É bem preocupante, porque doenças que antes eram consideradas erradicadas estão retornando. Na prática, percebo que isso se deve muito ao pós-Covid. Foi aí que observamos uma queda na cobertura vacinal, tanto na rede pública quanto na privada”, relata Franciele. No caso da gripe, o número de casos aumentou de forma expressiva, tendência que já vinha sendo percebida nos últimos anos, agravada pela baixa cobertura vacinal.
Em 2025, no Rio Grande do Sul, apenas 42% dos gaúchos se vacinaram contra a gripe. O estado registra o maior número de internações por influenza desde a pandemia de H1N1, em 2009.
Além do avanço da gripe, o Estado enfrenta o risco de reintrodução do sarampo. Após a confirmação de um caso importado em Porto Alegre, o governo estadual intensificou a vacinação em municípios vulneráveis. Extremamente contagiosa, a doença já foi, até os anos 1980, a terceira principal causa de mortalidade infantil no mundo, e ainda hoje representa um grave problema de saúde pública em países com baixa cobertura vacinal.
O alerta também se estende à poliomielite, que pode causar paralisia irreversível. Com a cobertura vacinal abaixo do ideal, o Ministério da Saúde já classifica o RS como área de risco para reintrodução do vírus.
Outras doenças também têm gerado preocupação entre os profissionais de saúde, como o Herpes Zoster. Ilda Maria Juschem, proprietária da clínica Multivacin, que tem mais de 30 anos de experiência na área de vacinação, alerta para a vacinação deste tipo grave de herpes, causada pelo vírus da catapora. “Muita gente não sabe, mas quem teve catapora na infância pode desenvolver Herpes Zoster décadas depois. Esse vírus permanece adormecido no organismo e pode ser reativado na fase adulta, especialmente em situações de queda da imunidade. E, quando reaparece, costuma vir de forma mais agressiva”, explica.
A vacina contra o HPV também é considerada essencial. Disponível no SUS a partir dos 9 anos, ela protege contra lesões provocadas pelo vírus, que podem evoluir para diferentes tipos de câncer. “Essa é uma vacina que não trata o câncer diretamente, mas age nas lesões do HPV que podem se transformar em câncer no futuro. É uma forma de proteção fundamental e ainda subestimada”, afirma a proprietária e administradora da clínica.
Ilda reforça a importância da retomada das campanhas de vacinação em massa para evitar o retorno de doenças que o Brasil já havia conseguido erradicar. “O sarampo já tinha sido eliminado, assim como a poliomielite. Mas agora, infelizmente, vemos novos casos surgindo. Mesmo que o vírus do sarampo, por exemplo, tenha sido importado, ele entrou no país e se instalou. Cabe agora ao Ministério da Saúde e a todos nós trabalharmos firmemente para erradicar novamente essas doenças. E isso só será possível com vacina. É, sem dúvida, a única forma eficaz de prevenção”, conclui.
Desinformação e fadiga vacinal
Entre as causas para a queda na adesão vacinal, Franciele da Rosa destaca fatores como fake news, questões religiosas, posicionamentos políticos e uma perigosa falsa sensação de segurança em relação às doenças que antes estavam sob controle. Essa percepção também é compartilhada por Ilda. “A desconfiança que surgiu com as vacinas da Covid acabou prejudicando todas as outras”, destaca.
Para que o Brasil volte a alcançar os altos índices de cobertura do passado, é preciso mais que campanhas pontuais. É necessário um esforço conjunto entre governo, profissionais de saúde, educadores, mídia e comunidade. A vacinação deve ser encarada como um pacto coletivo pela saúde pública.
“É uma batalha constante. E quem está na linha de frente, o profissional que vai atender o paciente, precisa oferecer um atendimento mais humanizado, acolhedor e tranquilo para que o paciente tenha mais confiabilidade no processo”, afirma Franciele.
Ilda também destaca a importância do Sistema Único de Saúde (SUS) no cenário da imunização brasileira e reforça que o programa nacional de vacinação é um dos mais robustos do mundo.
“As vacinas do SUS são excelentes. Algumas vacinas que temos nas clínicas privadas são mais completas, mas jamais diria que são melhores. O nosso SUS, como gosto de chamar, é um dos melhores projetos de vacinação do mundo. Vai do bebê ao idoso. E o governo tem feito um grande esforço para incorporar vacinas que antes estavam apenas na rede privada. É um investimento alto, tanto do setor público quanto do privado, mas absolutamente necessário”, destaca.
Na clínica Multivacin, Ilda explica que trabalham exclusivamente com vacinas importadas. Isso porque as vacinas produzidas no Brasil, segundo ela, são voltadas exclusivamente à rede pública. “As vacinas nacionais são de excelente qualidade, mas são produzidas para atender à demanda do SUS.”
Apesar das dificuldades enfrentadas nos últimos anos, ambas as profissionais demonstram otimismo com o cenário atual e acreditam que a valorização da vacinação está sendo retomada pouco a pouco. Independentemente de onde a vacina é aplicada, na rede pública ou privada, o objetivo é o mesmo: proteger vidas. Por isso, procure manter o calendário de vacinação em dia.
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