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Verde que protege: a importância das matas ciliares e da vegetação para a água e o solo

As imagens das enchentes de 2024 ainda estão vivas na memória de todos nós e se somam às constantes chuvas intensas e temporais que têm caído no Rio Grande do Sul nesse início de 2025, após um longo período de secas. Chuvas isoladas, grandes volumes em um curto espaço de tempo, ventos fortes. Características cada vez mais comuns e assustadoras. E, além dos danos materiais e das perdas humanas, seus impactos ambientais deixam marcas profundas: solo exposto, água turva, rios assoreados, fontes de abastecimento comprometidas. Em meio a tantos prejuízos, uma lição se impõe com urgência: precisamos cuidar melhor das nossas áreas verdes — especialmente daquelas que protegem nossos cursos d’água.

As matas ciliares, também chamadas de vegetação ripária, são formações naturais que se desenvolvem ao longo das margens de rios, córregos e nascentes. Elas funcionam como verdadeiros filtros naturais, impedindo que sedimentos, agrotóxicos, esgoto e outros poluentes atinjam diretamente os corpos hídricos. Além disso, são essenciais para evitar a erosão do solo e o assoreamento dos rios — problemas que se agravam consideravelmente em períodos de chuvas intensas, como as que vivemos no último ano.

Com a supressão dessa vegetação — seja por avanço da agricultura, da urbanização ou da falta de fiscalização — abrimos espaço para um efeito dominó: o solo perde sua capacidade de absorção, a água da chuva escorre com mais velocidade, os rios transbordam com mais facilidade e os sedimentos carregados invadem nascentes, reservatórios e até sistemas de abastecimento.

E não é só o meio ambiente que perde: quando um rio se contamina ou se torna raso demais para captação, toda a população sente os efeitos — seja pela falta de água potável, pelo aumento nos custos de tratamento, ou pela redução da disponibilidade hídrica para atividades básicas e produtivas.

Preservar matas ciliares, portanto, não é uma escolha, é uma necessidade. Essas áreas são protegidas por lei (como determina o Código Florestal), mas a realidade mostra que a fiscalização ainda é insuficiente. É fundamental que as autoridades ambientais atuem com mais rigor, mas também que a sociedade compreenda o valor dessas faixas verdes. Incentivar a recuperação de áreas degradadas, apoiar projetos de reflorestamento e cobrar o cumprimento da legislação são atitudes urgentes.

Além disso, diversas iniciativas têm demonstrado que a recuperação de matas ciliares é possível e traz resultados concretos. Projetos de reflorestamento participativo em municípios do interior gaúcho, por exemplo, têm mobilizado agricultores, escolas e órgãos ambientais em ações conjuntas de plantio de espécies nativas ao longo de rios e nascentes. Os resultados são perceptíveis em poucos anos: a redução da turbidez da água, o retorno de espécies da fauna local e a melhora na qualidade do solo ao redor. Quando há vontade política e engajamento da comunidade, a natureza responde — e responde rápido.

Os dados reforçam a urgência do tema. De acordo com o MapBiomas, o Brasil perdeu mais de 15% da vegetação nativa ao redor dos corpos d’água nas últimas décadas. No Rio Grande do Sul, esse número é ainda mais preocupante em regiões onde a expansão urbana e agrícola avança sem planejamento. Cada hectare desmatado em áreas de proteção permanente representa um enfraquecimento do sistema natural de defesa contra enchentes, deslizamentos e contaminação hídrica.

A cobertura vegetal, de forma geral, é nossa aliada mais poderosa na proteção dos recursos hídricos. Ela ajuda a regular o microclima, favorece a infiltração da água no solo, alimenta os lençóis freáticos e reduz drasticamente o risco de desastres ambientais.

Proteger as matas ciliares também é um compromisso com o futuro. A forma como lidamos com o solo e com a água hoje definirá a segurança das próximas gerações. Estamos falando de garantir água limpa nas torneiras, alimentos cultivados em solos saudáveis e cidades mais preparadas para enfrentar os efeitos das mudanças climáticas. A natureza oferece as ferramentas — cabe a nós respeitá-las, valorizá-las e agir.

Redação enFoco

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