Iniciamos nesta edição uma série especial de colunas em homenagem ao mês da criança. Ao longo das próximas semanas, vamos refletir sobre a importância da infância na construção de caminhos sustentáveis para o futuro. Afinal, é nesse período da vida que se plantam as sementes da consciência ambiental e do cuidado coletivo.
Quando falamos em educação ambiental, muitas vezes pensamos apenas na escola. Mas a primeira escola da criança é o lar, o quintal, a rua onde brinca, o ambiente em que cresce. É no cotidiano que surgem os exemplos que moldam hábitos e valores. Se uma criança vê o pai separar o lixo, a mãe cuidar de uma horta caseira, a família economizar água e energia, ela aprende, de forma natural, que sustentabilidade não é discurso distante, mas prática diária.
A infância é também o período da curiosidade, da observação atenta, da descoberta do mundo. Cada árvore, cada inseto, cada rio é um convite para aprender. Infelizmente, em muitas cidades, esse contato tem sido substituído por telas e concreto. Crianças que crescem sem brincar ao ar livre perdem não apenas saúde e vitalidade, mas também a chance de desenvolver vínculo afetivo com a natureza. E quem não cria laços dificilmente se sente motivado a cuidar.
O quintal de casa, por menor que seja, pode se transformar em espaço de aprendizado. Uma garrafa pet que vira vaso, uma composteira feita com restos de alimentos, um canteiro de temperos que floresce com o cuidado das mãos pequenas. Nessas experiências simples, a criança entende que a vida é um ciclo, que tudo tem valor e que nada deve ser desperdiçado.
A responsabilidade, no entanto, não pode recair apenas sobre as famílias. O poder público e a sociedade precisam estimular políticas e projetos que garantam a todas as crianças o direito de crescer em ambientes saudáveis, com acesso a áreas verdes, a programas de educação ambiental e a espaços de convivência comunitária. É inadmissível que ainda tratemos rios como depósitos de lixo e praças como terrenos baldios, negando às novas gerações a oportunidade de vivenciar a cidade de forma plena.
Educar para a sustentabilidade não é um luxo. É uma urgência. Os desafios ambientais que enfrentamos hoje: mudanças climáticas, poluição, escassez de água, serão ainda mais intensos no futuro. Se não começarmos a formar cidadãos conscientes desde a infância, estaremos condenando nossas crianças a viver em um mundo mais hostil, onde cuidar da Terra será questão de sobrevivência, não de escolha.
Mas há esperança. Cada gesto conta. A criança que hoje aprende a não desperdiçar alimento pode se tornar o adulto que combate o desperdício em escala. O pequeno que descobre a beleza de plantar pode inspirar comunidades inteiras a rever sua relação com a terra. O filho que cobra do pai atitudes coerentes mostra que o aprendizado caminha em via dupla.
Neste mês das crianças, nosso convite é simples e profundo: olhe para o quintal, para a casa, para a rotina da sua família. Pergunte-se que valores ambientais estão sendo transmitidos, que sementes estão sendo plantadas. Porque o futuro sustentável que tanto desejamos começa ali, na infância, e o primeiro capítulo dessa história está escrito em casa.