A recente iniciativa do governo federal de ampliar a isenção do Imposto de Renda para brasileiros que recebem até R$ 5.000,00 mensais foi anunciada como um grande avanço social. No entanto, quando analisada à luz da histórica defasagem da tabela do IRPF, a medida deixa de ser um gesto de generosidade e passa a revelar um método recorrente de atuação politiqueira: transformar a correção de uma distorção criada pelo próprio Estado em capital político.
De acordo com cálculos do Sindifisco Nacional, a defasagem acumulada da tabela do Imposto de Renda chega a aproximadamente 154,49% entre 1996 e o final de 2024. Isso significa que, por quase três décadas, os limites de renda que definem as faixas de tributação não acompanharam a inflação oficial. Na prática, milhões de trabalhadores passaram a pagar mais imposto não porque enriqueceram, mas porque apenas tentaram preservar minimamente seu poder de compra frente ao aumento do custo de vida.
Essa omissão deliberada do Estado gerou um fenômeno perverso: a chamada “tributação silenciosa”. Sem aumentar formalmente alíquotas, governos sucessivos ampliaram a arrecadação ao empurrar contribuintes para faixas mais altas do imposto. O resultado foi a corrosão progressiva da renda disponível das famílias, reduzindo sua capacidade de consumo, poupança e planejamento financeiro. Trata-se de um confisco disfarçado, que penaliza especialmente a classe média e os trabalhadores de menor renda.
Nesse contexto, é no mínimo contraditório que um governo afirme combater a fome e a desigualdade enquanto, simultaneamente, retira o poder de compra da população por meio da manutenção de tabelas defasadas, da criação de novos tributos e do aumento da carga tributária. Combater a fome não é apenas distribuir auxílios; é permitir que o salário das pessoas seja suficiente para comprar comida, pagar aluguel, transporte e serviços básicos sem que uma fatia crescente dessa renda seja absorvida pelo Estado.
O aumento contínuo da carga tributária, sobretudo sobre renda e consumo, atua como um motor silencioso da pobreza. Cada imposto adicional encarece produtos, reduz margens das empresas, limita investimentos e, inevitavelmente, se reflete em preços mais altos e menos empregos. A conta nunca fica com o governo — ela sempre recai sobre o cidadão comum, que paga mais e recebe menos em troca.
Esse mesmo raciocínio se aplica às micro e pequenas empresas, especialmente no que diz respeito ao Simples Nacional. Os limites de enquadramento do regime também sofrem com grave defasagem inflacionária. Empresas que não cresceram em termos reais acabam sendo desenquadradas apenas porque seus faturamentos nominais foram corrigidos pela inflação. Ao sair do Simples, essas empresas enfrentam uma carga tributária abruptamente maior, aumento de burocracia e perda de competitividade. O efeito é devastador: desestimula o empreendedorismo, incentiva a informalidade e sufoca justamente quem mais gera empregos no país.
Atualizar o limite do Simples Nacional não é um benefício, tampouco um privilégio. É uma medida de justiça econômica e de sobrevivência empresarial. Ignorar essa realidade é condenar pequenos negócios a operar no limite, reduzindo sua capacidade de investir, contratar e crescer.
Diante desse cenário, torna-se urgente que a sociedade se torne mais politizada e menos suscetível a narrativas populistas travestidas de políticas assistencialistas. Corrigir distorções criadas pelo próprio Estado não pode ser tratado como favor ou benevolência. É dever de qualquer gestor público sério garantir que impostos sejam justos, transparentes e compatíveis com a realidade econômica da população.
Sem discernimento político, a população continuará aplaudindo soluções tardias para problemas deliberadamente mantidos, enquanto o custo real dessas escolhas recai, ano após ano, sobre quem trabalha, empreende e sustenta o país.







