Buenas, amigos e amigas!
Antes de mais nada, quero começar com um aprumado respeito: nós, gaúchos, temos uma tradição linda. Do fogo de chão ao mate que passa de mão em mão, da lida no campo até a solidariedade entre vizinhos, é coisa que enche o peito de orgulho. O problema é que, junto com essas tradições boas, às vezes herdamos também uns “remédios” de antigamente que, se fossem receita médica, dariam uma baita dor de cabeça (e processo ético também).
É claro, antigamente não tinha veterinário em cada esquina. Então, o peão fazia o que sabia: se o cavalo caía, ele erguia; se o cachorro convulsionava, lá vinha o ovo cru goela abaixo. E se o boi se cortava, tchê, nada que uma boa camada de banha não resolvesse. Café nas feridas? Por que não! Vai que o bichinho acorda mais animado que nós numa segunda-feira.
Mas aqui entra a ciência, e não precisa ser arrogante pra dizer isso. Hoje nós sabemos que dar ovo pra animal convulsionando não só não ajuda como pode piorar a situação (além de dar uma pneumonia por aspiração de brinde). Banha na ferida? Funciona bem… pra assar pão, não pra cicatrizar pele. Café no corte? Só serve pra fazer uma esfoliação local.
O que quero dizer é simples: tradição é coisa séria, mas saúde animal é mais séria ainda. Dá pra respeitar o passado sem repetir os erros dele. Assim como não precisamos mais ferrar cavalo com prego aquecido no fogão a lenha, também não precisamos improvisar “remédios” que já sabemos que não funcionam.
O gaúcho verdadeiro honra o que vem de antes, mas também aprende, evolui, melhora. Então, quando teu cavalo tropeçar, teu cachorro desmaiar ou teu gato aparecer com um corte, faz favor: guarda o ovo pra gemada, a banha pro carreteiro e o café pra acordar o peão. Pros bichos, deixa que o veterinário, dá conta do recado.
E sigo tomando mate, como manda a tradição. Mas se meu cusco convulsionar, juro que não vou puxar a língua dele pra fora com medo que ele engula ela ( mais um mito).
Abraço do vet.