A erosão hídrica e a estiagem são dois dos maiores desafios enfrentados pelos produtores rurais gaúchos. A perda de solo fértil e a redução da capacidade produtiva não apenas afetam a renda agrícola como comprometem o equilíbrio ambiental das bacias hidrográficas. Nesse cenário, uma prática conservacionista tradicional vem retomando protagonismo no Rio Grande do Sul: o terraceamento agrícola.
Os terraços funcionam como degraus distribuídos ao longo das áreas agrícolas. Sua função é reduzir a velocidade do escoamento superficial, favorecer a infiltração da água da chuva, controlar processos erosivos e preservar nutrientes essenciais para a fertilidade do solo. Trata-se de uma tecnologia simples, porém estratégica, especialmente em um contexto de instabilidade climática.
Expansão na região Central
Nos últimos anos, políticas públicas e parcerias institucionais têm potencializado a adoção do terraceamento. Programas como a Operação Terra Forte, coordenado pela Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), e o Projeto ABC+, desenvolvido pela Emater/RS-Ascar em parceria com a Secretaria de Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), estão promovendo a expansão da técnica em diversas regiões.
Alguns municípios do centro do Estado já demonstram resultados expressivos. Em São Vicente do Sul, cerca de 6 mil hectares estão estruturados com terraços. Em Nova Esperança do Sul, cinco agricultores implementaram a prática em 28 hectares. Em Santa Maria, produtores têm mais de 250 hectares terraceados. Esses números mostram o crescente interesse dos agricultores em integrar práticas conservacionistas à sua rotina produtiva, sempre com acompanhamento técnico.
Base científica da prática conservacionista
Estudos conduzidos por pesquisadores indicam que isoladamente a palhada da cobertura vegetal não garante a contenção dos processos erosivos, ou seja, apenas o Plantio Direto não resolve os desafios hídricos que temos. O controle eficiente da erosão exige um manejo integrado, que envolve o plantio em nível, a diversificação de culturas, o uso de espécies com sistemas radiculares profundos e, sobretudo, a implantação de terraços como estruturas-chave no aumento da infiltração e no manejo da água da chuva.
Planejamento e suporte técnico
A implantação de terraços demanda conhecimento especializado, desde o levantamento topográfico da área até o dimensionamento e construção adequados das estruturas. Por isso, instituições como a Emater/RS-Ascar e o Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Erosão e Hidrologia de Superfície (Gipehs), da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), oferecem apoio gratuito aos agricultores.
Esse trabalho integra o projeto Estratégias de Conservação de Solo e de Água em Bacias Rurais para a Adaptação dos Sistemas Produtivos às Mudanças Climáticas, financiado pelo Governo do Estado via Fapergs. A iniciativa reúne uma ampla rede de instituições, incluindo UFSM, Emater/RS-Ascar, IFF São Vicente, UERGS Cachoeira do Sul, UFFS Cerro Largo, Embrapa Trigo e a bacia experimental do rio Guarda Mor, sob a coordenação do professor Jean Minella, do Centro de Ciências Rurais da UFSM.
Mais do que uma técnica de manejo, o terraceamento consolida-se como ferramenta essencial para a resiliência agropecuária, permitindo que os sistemas produtivos gaúchos enfrentem, com maior segurança, os desafios impostos pelas mudanças climáticas.
Foto: Isadora da Rocha
Guilherme G. dos Santos Passamani
Engenheiro Agrônomo, doutor em Agronomia
Gerente Regional de Santa Maria
e-mail:ggsantos@emater.tche.br
EMATER-RS/ASCAR